segunda-feira, 8 de março de 2010

"A Rapariga das Laranjas" e uma Catherine nauseada


Querida Catherine,
Prometo que vais perceber este título.
Ora, como já deves ter reparado, ali do lado esquerdo, comecei a ler "A Rapariga das Laranjas", de Jostein Gaarder, depois de ter acabado, ontem, "A Conspiração", de Dan Brown. Ler, para mim, é mais do que um passatempo. Não leio para "passar o tempo", como poderá sugerir o nome, mas sim porque é, para mim, fundamental. Desde pequena que leio. Lembro-me de ter começado por aqueles livros infantis, coloridos e com histórias aliciantes para a minha idade. Chegada à primária, passei para os livros de Uma Aventura, Triângulo Jota, e para basicamente grande parte dos livros que as pessoas com a minha idade liam, nessa altura (Lua de Joana, O Rapaz da Praia, and so on). Ler, para mim, significava estar comigo própria, a construir-me, a sonhar, a imaginar outras realidades, tudo sem sair do meu quarto. De facto, penso que ler, é uma experiência muito mais pessoal que ir-se ao cinema. Cada pessoa, ao ler, pode imaginar, à sua maneira, cada personagem, cada cenário, e cada particularidade inerente à história. Num filme, está tudo lá, visualmente.

Continuando, ultimamente tenho-me dedicado à obra de Dan Brown. Comecei pelo "Código Da Vinci", saltando para obras de Isabel Allende, Gabriel García Márquez, tendo regressado ao Dan Brown, com "Anjos e Demónios" e não mais tendo parado até chegar ao "A Conspiração". Agora só me falta ler "O Símbolo Perdido" e eu e o Dan ficamos conversados :)
Sendo que ando sempre à procura de novas leituras, propuseram-me ler "A Rapariga das Laranjas".

Ontem à noite peguei-lhe. À tarde, numa viagem de comboio, voltei a abri-lo.

Esperava eu, ter uma viagem de hora e meia sossegada, afinal era Domingo e a carruagem do meio, onde viajo sempre, ia quase vazia! Mas não...e agora sim, Catherine, vais perceber este título.

Não é que há pessoas que, nem ao Domingo, TOMAM BANHO? Pois é... Primeiro, um rapaz. Cheiro inconfundível a falta de sabonete pelo costedo abaixo. Dirira que respirei fundo, quando me apercebi que aquele cheiro ia ficar por ali até, pelo menos, o rapaz ir embora, e foi isso que fiz. Mas não num sentido literal...claro. Enfim, regressei à "rapariga do anorak amarelo que carregava um enorme saco de laranjas, apertado contra o peito". Umas paragens mais à frente, o comboio pára e entra alguém que se senta no banco atrás de mim (num regional, estás a ver? aqueles grupos de bancos em que as pessoas ficam sentadas costas com costas?). Normal. Mas aquilo que me fez reparar, foi que o homem vinha com uma respiração pesada, a tossir e depois a...não sei como descrever...puxar o ranhedo pelo nariz? :s Ruidosamente? De forma nojenta? Bom, tentei ignorar e voltar ao "saco de laranjas que caiu pelo chão da carruagem, fazendo com que as laranjas rolassem por entre as botas e os sapatos sujos". Continuava a tentar, quando o homem se sentou no banco de tal forma que parecia que estava aos coices nas minhas costas. Eu continua a tentar ignorar...agora "o rapaz pôs-se de gatas no chão e tentava apanhar as laranjas".... Mas não deu mais! Não aguentei! O homem continua a fazer aqueles barulhos nojentinhos com a boca e CHEIRAVA MAL! Mais um que não tinha tomado banho. Aí, pensei que tinha o direito de ficar incomodada e mudar-me para o outro banco, que estava à minha frente, de modo que, finalmente, vi o homem (ou melhor, as costas e a cabeça do homem.) Catherine, não estás bem a ver...aquele cabelo gorduroso, blhec!

O cheiro a falta de banho na carruagem continuava a presentear-nos: o do rapaz e agora o do homem. Mas eu já queria lá saber! Até porque passado algum tempo já nem sentia tanto o cheiro :s  Mergulhei novamente no livro... A dada altura, olhei eu para a frente e vejo o homem a escarafunchar o nariz selvaticamente (ele não parava nem tentava ser discreto!) e de seguida a passar as mãos pelo cabelo, gorduroso, a fazer caracóis com os dedos gordos! A seguir pôs-se a comer rebuçados...não estás bem a ver, os sons que ele fazia a comer!! blhec blhec blhec!! Fiquei enojada com tudo. A sério. Não me leves a mal por estar a falar mal do homem. Mas a falta de maneiras e desconsideração pelos outros irritam-me profundamente!

Não consegui continuar a ler. Entretanto a minha paragem foi anunciada e eu saí. Sem olhar para trás. Para o ar puro. Ahhh...

A rapariga das laranjas saiu do eléctrico e o rapaz continuou a sua viagem, com a certeza de que queria voltar a vê-la.

Sem comentários: